As ações da Petrobras tomaram um tombo nesta terça-feira, e caíram quase 3%, arrastando o Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, que recuou 1%. Mas, nos últimos 30 dias, quem comprou R$ 10 mil em ações preferenciais da petrolífera, tem hoje em caixa R$ 12.000,00. É um ganho de 20%. Com as ações ordinárias, o retorno é de R$ 2.120,00 para quem aplicou os mesmos R$ 10 mil.
Só para comparação, no mesmo período, os fundos ações Ibovespa ativo, que têm como objetivo superar o ganho do principal índice do mercado de ações brasileiro, ofereceram um retorno de 5,21%, enquanto os fundos DI, que acompanham a alta dos juros, se valorizaram 0,86% nos últimos 30 dias. Analistas são unânimes em afirmar que os papéis da petrolífera subiram influenciados pelo fator político.
— Sempre que as pesquisas eleitorais mostrarem queda da presidente Dilma Rousseff nas intenções de voto, as ações de estatais, entre elas a Petrobras, vão subir. É o fator eleição já influenciando o mercado — diz Pedro Galdi, analista da SLW Corretora.
No fim de semana passado, pesquisa Datafolha mostrou um enfraquecimento da presidente Dilma Rousseff nas intenções de voto — embora ela continue figurando como líder em qualquer cenário. Em uma simulação com os candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), as intenções de voto na atual presidente caíram para 38% no levantamento realizado no começo de abril. Na rodada anterior, de fevereiro, Dilma somava 44% no mesmo cenário.
Apesar disso, ela seria reeleita em primeiro turno. Segundo o Datafolha, seus adversários não cresceram. Aécio se manteve com 16% das intenções de voto e Campos subiu dentro da margem de erro da pesquisa (2 pontos percentuais), indo de 9% para 10%. Mesmo assim, o mercado comemorou a queda de Dilma e as ações subiram mais de 6% na segunda-feira.
O interessante é que dois meses atrás, os papéis da Petrobras atingiram o menor valor desde 2005, após a companhia divulgar seu balanço. O que assustou o mercado foi o tamanho da dívida da empresa, que saltou de R$ 147,817 bilhões, em dezembro de 2012, para R$ 221,563 bilhões no fim do ano passado.
Desde então, a petrolífera se viu envolvida em denúncias, como a compra da refinaria de Pasadena, dos EUA, por um valor considerado muito elevado e teve um ex-diretor da companhia preso pela Polícia federal, acusado de participar de uma operação de lavagem de dinheiro. E não existe perspectiva de que o governo autorize aumento de combustível para aliviar o caixa da empresa já que a inflação está pressionada.
Mas mesmo nesse contexto polêmico, as corretoras voltaram a recomendar a compra das ações da Petrobras. Estão apostando que as ações devem ganhar com o fator político.
— Incluímos os papéis preferenciais da Petrobras em nossa carteira recomendada mensal para março, já que a companhia possui 11,5% de peso no índice Bovespa. Com isso, reduzimos o risco de perda por não ter exposição a Petrobras — diz Willian Alves, analista da XP Investimentos.
Em 12 carteiras de ações de corretoras recomendadas para março, os papéis da petrolífera já aparecem em quatro delas. A corretora Santander vê possibilidade de ganho de 19,8% se os papéis ordinários da empresa atingirem o preço alvo estimado por seus analistas, de R$ 19,00. Já para as ações preferenciais da petrolífera, a possibilidade de ganho é de 32,69% se o preço alvo médio estimado por três corretoras — de R$ 21,84 — for atingido.
Para o diretor executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da corretora Nomura, Tony Volpon, as chances de vitória da presidente Dilma realmente se reduziram: são atualmente de 50% frente aos 60% de março. Para ele, as variáveis mais importantes até a eleição serão a inflação, mudança nas condições do mercado de trabalho, e o sucesso ou derrota do Brasil na Copa do Mundo.
— E, claro, a habilidade dos candidatos de oposição de capitalizar esse crescimento da insatisfação com o governo, o que não vem acontecendo até agora — avalia Volpon.
Para ele, do ponto de vista da economia, é a inflação o item que mais preocupa os eleitores, com 65% dos entrevistados pelos pesquisadores do Datafolha acreditando que os preços subiram.
— Com a inflação em alta pressionada por alimentos e pela própria Copa do Mundo, a expectativa é que Dilma entre na corrida eleitoral mais fraca do que na expectativa anterior — diz Volpon, em sua análise.
FONTE: O Globo, 09 de abril de 2014; fetraconspar.org.br