por Fábio Galiotto
O Banco Central (BC) voltou ontem a fazer leilões de swap reverso, que é quando acerta a compra futura de dólares, para conter a desvalorização do dólar em relação ao real. A moeda norte-americana chegou a perder 11% de valor em junho e pouco mais de 18% no ano, em movimento que deve ajudar a conter a inflação em médio prazo, mas que preocupa a parte do setor produtivo forte em exportações. A explicação é que a maior previsibilidade do cenário político acalmou agentes de mercado, além de "sobra" de dólares no mercado interno pelos recentes recordes positivos no saldo da Balança Comercial e pela manutenção do capital de investidores no País diante de juros internos que remuneram bem.
São dois dias seguidos de alta na cotação do dólar até ontem, quando teve alta de 1,11% e fechou em R$ 3,26. A movimentação positiva também se deu devido ao feriado nos Estados Unidos de ontem, pelo Dia da Independência do país. Porém, o BC fez novo leilão de 10 mil contratos ontem e programou outro para a manhã de hoje com o mesmo número de operações.
Entre consultores financeiros, a expectativa é que o dólar continue em rota negativa no Brasil, apesar da valorização diante de outras moedas internacionais. Como o cenário internacional se tornou mais nebuloso pela aprovação da saída do Reino Unido da União Europeia, em plebiscito, houve uma corrida de aversão ao risco pela compra de dólares. Contudo, o mesmo não ocorreu no Brasil, o que faz com que as explicações fiquem mais em torno de agentes internos.
Consultor de investimentos da Inva Capital em Curitiba, Raphael Cordeiro afirma que, como a moeda está próxima de uma cotação mais justa, fica difícil enxergar as variações. No fim de 2015 e início de 2016, ele conta que o dólar estava muito caro e que era fácil prever a queda. "O saldo da Balança Comercial começou a crescer muito forte no segundo semestre do ano passado e parou de crescer somente em junho deste ano, então existe a possibilidade de se estabilizar ou cair um pouquinho, o que vai depender da nossa economia, se vai começar a se recuperar ou não."
Cordeiro lembra que houve recorde para meses de maio de US$ 6,437 bilhões no saldo entre importações e exportações e resultado positivo de US$ 3,97 bilhões em junho. O País teve o melhor primeiro semestre desde o início da série histórica iniciada em 1989 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), com US$ 23,6 bilhões. "O investimento estrangeiro direto, por incrível que pareça, manteve-se nos patamares do passado e passou a sobrar dólar no mercado interno", diz. "O que segurava mais era a crise política."
Sócio da Valuupe Consultoria em Londrina, Lucas Dezordi também acredita que o desenvolvimento do cenário político que fez a economia patinar durante o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff é a maior causa para a queda do dólar. "A equipe econômica está blindada, é nova, bem técnica e não deve ter qualquer envolvimento com questões como Lava Jato", diz, ao citar a operação que investiga desvios na Petrobras .
Dezordi considera que, caso o governo não interfira com muitos leilões de swap da moeda, a cotação fique abaixo dos R$ 3. "Acho que essa queda do dólar vai fazer a inflação cair nos próximos meses e isso vai facilitar a retomada do crescimento", prevê. "E sugere a retomada da confiança internacional na economia brasileira, principalmente depois da primeira fase do impeachment."
O economista-chefe da Nova Futura Corretora, Pedro Paulo Silveira, lembra ainda que o presidente do BC, Ilan Goldfajn, acenou que a taxa básica de juros, a Selic, deve continuar em 14,25% por mais tempo. "Apenas como exemplo, a taxa de juros do Japão está em -0,23%. Em diversos países da Europa gira em torno de 1%. Assim fica fácil entender porque o investidor de fora está trazendo dinheiro para o País."
Fonte: Folha de Londrina, 5 de julho de 2016; fetraconspar.org.br