Após a explícita declaração do ministro interino da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), defendendo o fim do Sistema Único de Saúde, o economista Francisco Funcia vê na ação no Congresso Nacional um caminho para combater o desmonte da saúde pública no Brasil. Para ele, o combate ao Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 143/2015 e a aprovação da PEC 01/2015 são as alternativas para enfrentar o subfinanciamento do SUS, no ilegítimo governo Temer.

Por Railídia Carvalho

 

 

 

Equipe do Saúde da Família em ação
Equipe do Saúde da Família em ação
 

 

“A qualquer minuto esses projetos podem ser votados e se não aprovar a PEC 01 e também rejeitar a PEC 143 vai ser aberto um caminho institucional por meio de mudança na constituição que vai inviabilizar o sistema de saúde em termos financeiros”, declarou Funcia. Ele é mestre em economia política e consultor da comissão de financiamento e orçamento do Conselho Nacional de Saúde (Cofin-CNS).
 


Fim do SUS




De autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), a PEC 143 aumenta a desvinculação da receita da União e cria desvinculação de receita para estados e municípios. A PEC aguarda votação em segundo turno, se aprovada vai para a Câmara dos Deputados. Na prática, retira recursos que são reservados para os serviços e ações da saúde pública. 
 

Segundo Funcia, “ela (a PEC 143) está tirando, no limite, 40 bilhões de recursos da saúde”. “O ministro voltou atrás nas declarações de rever o tamanho do SUS mas a ideia continua presente”, lembrou o economista.
 

Política da desvinculação 


O jornalista e assessor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Neuriberg Dias, avaliou que agora existe uma convergência entre executivo e legislativo no que se refere à política de desvinculação de recursos. 


“Romero Jucá, Moreira Franco e Michel Temer bancaram temas nesse sentido quando exerciam mandato, em especial, no governo FHC quando aprovaram a reforma da previdência e administrativa quando foi retirado direitos dos servidores”, disse. 


Neuriberg afirmou que em 2015 o ministro interino Ricardo Barros defendeu maior participação do setor empresarial na saúde. “Ele é contra estatização. Defende o mínimo possível e nada de vinculação”, enfatizou.
 

Privatização da saúde


Apesar da trajetória que se opõe à saúde como um direito de todos, a manifestação do ministro de acabar com o SUS pegou muita gente de surpresa. 

“Não esperava. Conversando com militantes históricos parece que é a primeira vez que um ministro da saúde se manifesta dessa forma, explicitamente, em relação ao SUS e buscando revisão da sua amplitude”, afirmou Funcia.

 


“O que virá na frente depois das declarações? São 4 dias uteis desta gestão com medidas que vão contra a constituição e os direitos sociais”, questionou Funcia


PEC 01


O Conselho Nacional de Saúde tem feito constantes visitas ao Congresso, especialmente ao Senado reivindicando a rejeição da PEC 143. “O senado pode deteriorar as condições materiais de atendimento à saúde da população pela redução da capacidade de financiamento que já era suficiente”, disse o presidente do CNS, Ronald Ferreira dos Santos.


Ainda na opinião dele, a PEC 143 é um desrespeito “a vontade popular expressa em mais de 2,2 milhões de assinatura do Projeto de Lei de Iniciativa Popular por 10% das Receitas Correntes Brutas da União, hoje encampado na PEC 01/2015”.


A PEC 01 foi aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados e aguarda votação em segundo turno e depois será encaminhada ao Senado. O projeto eleva para 19% a aplicação mínima em saúde. Este percentual seria atingido a partir do 7º ano de vigência da PEC.


 

Fonte: Vermelho, 20 de maio de 2016fetraconspar.org.br