por Luís Fernando Wiltemburg
A equipe econômica do presidente interino Michel Temer (PMDB) divide a opinião de acadêmicos especialistas na área. Peças-chave foram confirmadas entre a noite de anteontem, quando a economista Maria Silvia Bastos Marques foi oficialmente anunciada para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), e a manhã de ontem, com a confirmação do ex-economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco Ilan Golfajn na presidência do Banco Central.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também anunciou Carlos Hamilton como novo secretário de Política Econômica, Mansueto Almeida como secretário de Acompanhamento Econômico e Marcelo Caetano como secretário da Previdência. A equipe foi bem recebida por entidades representativas dos setores econômico e financeiro por representar uma postura de austeridade fiscal e ortodoxia que agrada ao mercado.
Segundo o professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Carlos Roberto Ferreira, o que se espera da equipe econômica é que consiga dar "outra roupagem" para a economia brasileira. "As medidas anunciadas - que ainda não foram muitas, porque ainda estão sendo elaboradas – fizeram o mercado reagir bem e eu considero posturas importantes e interessantes para o País."
Ferreira admite que, mesmo impopulares, as medidas são necessárias para, a médio e longo prazos, melhorar as finanças do País e a população poder usufruir dessa estabilidade que devem gerar.
Numa análise diametralmente oposta, o professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Fabiano Abranches Dalto considera que a equipe econômica de Temer deve reduzir investimentos públicos, manter as taxas de juros altas, a taxa de desemprego ainda crescente e a renda do brasileiro em queda. Por outro lado, ele prevê uma inflação baixa, mas mais por conta da estabilidade do câmbio que como resultado das medidas. "É uma equipe conservadora, pró-mercado, neoliberal. Qualquer termo desses se ajusta a eles", diz.
Os adjetivos remetem à política econômica adotada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que permaneceu no poder entre 1995 e 2002, com um governo marcado pela estabilidade da moeda e privatizações, mas também por recessão e desemprego.
Segundo Dalto, quem defende a adoção da política econômica proposta acredita que, ao obter alguma estabilidade, os investimentos retornariam. "Isso é o que o economista norte-americano Paul Krugman chama de ‘fada da confiança’, mas empresário só vai investir se vender", afirma.
Além disso, o economista faz o paralelo de que o tucano tinha a aprovação da população, enquanto pesquisas recentes indicam que, em uma eleição, Temer não chegaria a 2% de votos. "Se não houve investimentos na época do FHC, imagine como será com o Temer, que não tem nada, é um governo ilegítimo? Não há ‘fada de investimento’ que salve."
Ferreira, entretanto, faz a ressalva de que os momentos são diferentes. "Na época do FHC, a conjuntura era outra. Saímos de uma situação de hiperinflação para outra de menos de 10%. O Brasil não estava bem e havia recessão na economia mundial", frisa.
O resultado de Lula só foi favorável, diz o economista, porque seu antecessor "fez a lição de casa" e a economia mundial melhorou. "O período pré-Fernando Henrique era terrível. O Lula teve sorte e, quando entrou no primeiro governo, seguiu as regras do antecessor", recorda.
Para Dalto, o crescimento econômico só seria retomado com incentivo ao consumo, mas com base no aumento da renda – prejudicado pelo desemprego, que também afeta salários. Outra alternativa apontada seria por investimentos do governo em áreas como transportes, saneamento, saúde e educação. "Isso tem um efeito multiplicador porque as pessoas que recebem esse gasto do governo compram mercadorias e aumentam a capacidade de produção do empresário. Mas a equipe sinaliza com cortes de custos", aponta o economista.
Fonte: Folha de Londrina, 18 de maio de 2016; fetraconspar.org.br