Pesquisa de 2015 mostra que quatro em cada dez brasileiros já estão envolvidos em abertura de empresas, mas com salto na participação dos que precisam complementar a renda
Boa parte dos empreendimentos iniciais são tocados por jovens de 18 a 35 anos (52%), com escolaridade abaixo do segundo grau (44%) ou com o segundo grau completo (49%) e renda de até três salários mínimos (61%). Quesitos que tiveram variação pequena em relação ao ano anterior, mas que mostram o perfil de trabalhadores com mais dificuldade de conquistar espaço no mercado.
A diferença principal do ano passado em relação à série analisada na GEM, e que deve permear as iniciativas de abertura de empresas também em 2016, é mesmo a necessidade de se sustentar diante do aumento do desemprego, diz o consultor do Sebrae em Londrina, Rubens Negrão. "Até 2012, principalmente, o crescimento da classe C, o ganho de poder aquisitivo da população, o maior gasto em educação e o maior acesso à internet fizeram com que o brasileiro buscasse oportunidades de mercado", conta.
A perspectiva da realização de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada no País também motivou os empreendedores, mas a crise tratou de enfraquecer o ímpeto ainda antes dos Jogos do Rio, neste ano. "O desemprego e a inflação aumentaram, o que tira o poder de compra da população e cria um clima negativo, que é o principal responsável pelas pessoas gastarem menos e investirem menos", diz Negrão.
O consultor lembra ainda da alta de juros, que costuma fazer com que o rendimento em fundos de renda fixa seja maior do que o retorno em produção, o que atrasa a abertura de empresas por oportunidade. Outro motivo para a disparada do nascimento de empreendimentos por necessidade. "Quando fica desempregada, a pessoa tem de continuar a colocar o leite dentro de casa e então busca uma porta de entrada para o mercado empreendedor, que é principalmente o MEI", explica, sobre o Microempreendedor Individual.
O programa nacional permite que qualquer autônomo com faturamento de até R$ 60 mil ao ano possa se formalizar, mesmo que tenha até um funcionário. Negrão lembra que quem estava informal teve tempo para se adequar até então. "Quem virou MEI agora é porque são novos empreendedores."
Ainda na fase de montagem do plano de negócios, ele não decidiu se atenderá apenas residências e pequenos comércios, ou chegará até indústrias. Apesar de dizer que pode tocar a empresa em paralelo a um novo emprego, ele cita que também pode optar por trabalhar apenas como autônomo, caso identifique a oportunidade. "Tenho um filho e minha mulher está grávida de outro, então estou aberto a todas as oportunidades. Tudo vai depender da minha renda", diz Leite.
Fonte: Folha de Londrina, 29 de fevereiro de 2016; fetraconspar.org.br