Pesquisa internacional aponta que o brasileiro é um dos mais ‘engajados’ do mundo nas atividades profissionais.

Sabe aquele velho estigma de que o trabalhador brasileiro faz corpo mole, aquele preconceito arraigado na nossa cultura de dizer que não somos chegados no trabalho, de que somos preguiçosos, meio Macunaíma (o personagem preguiçoso, o anti-herói brasileiro criado por Mario de Andrade)? Pois essas ideias já foram cientificamente enterradas. Uma pesquisa da consultoria americana Towers Perrin, divulgada na Revista VendaMais mostra que, entre 18 países pesquisados, o Brasil figurou como um dos campeões em ‘engajamento profissional’.

A pesquisa mostra que o brasileiro se dedica “de corpo e alma” ao seu trabalho, como aponta a Revista – e como já apontavam há anos sociólogos sérios e pensadores que reconhecem a força de vontade e a garra dos tupiniquins. Em outras palavras, pode-se concluir que, se muitos por aqui não trabalham, é porque ainda faltam muitos postos de emprego formal, e não porque brasileiro não gosta de trabalhar, como alguns ainda insistem em dizer.

De todos os 18 países pesquisados, o Brasil ficou atrás apenas do México no ranking de engajamento com as obrigações profissionais. A pesquisa indicou que 37% dos funcionários de empresas brasileiras dão 100% de si ao trabalho, enquanto a média mundial ficou em 21%. Já os menos compromissados, de acordo com a pesquisa, são os trabalhadores do continente asiático.

Se olharmos apenas os números e o ‘ranking de engajamento’, é claro que ficamos com uma pontinha de orgulho, estufamos o peito e pensamos: “Tá vendo? Eu já sabia... Somos mesmo um povo honesto e trabalhador!” Mas a pesquisa permite também uma análise um pouco mais pessimista, um reconhecimento do que antigamente chamávamos de “nossa condição de subdesenvolvidos”.

O grau de envolvimento do trabalhador com as atividades profissionais foi avaliado em três frentes: a racional (o quanto ele pensa no trabalho), a emocional (o quanto se envolve emocionalmente na atividade) e a motivacional (o ‘agir’ no trabalho). Então pense comigo: se o trabalhador afirma se der 100% ao trabalho, que espaço sobra para a dedicação ao lazer, à família, aos amigos, ao estudo? Que tempo ele tem para pensar?

Empresas modernas e países avançados já perceberam que o trabalhador ideal não é o que se dedica 100% ao trabalho, mas o que sabe dosar com inteligência sua dedicação e responsabilidade em todas as áreas de sua condição humana. Nos cursos de Administração, por exemplo, já virou até lugar-comum citar empresas como a 3M, que permite ao trabalhador usar 1/5 do seu tempo (um dia inteiro por semana!) para... pensar. E não é que a empresa seja boazinha, não. É que os dirigentes perceberam que este é o caminho para a inovação. Eles vêem, na prática, que produtos como o genial post it – a cola que não cola muito – só surgem quando o trabalhador deixa a atividade mecânica e se dá ao luxo de pensar.

Adriane Werner. Jornalista, especialista em Planejamento e Qualidade em Comunicação e Mestre em Administração. Ministra treinamentos em comunicação com temas ligados a Oratória, Media Training (Relacionamento com a Imprensa) e Etiqueta Corporativa.

 


Fonte: Bem Paraná, 29 de fevereiro de 2016fetraconspar.org.br