Depois das agências de risco S&P e Fitch, Moody’s também rebaixa nota de crédito do País, o que deve provocar nova fuga de investidores e limitações de investimento

 

Gina Mardones
Em nota, agência disse que o fraco apoio político à presidente oferece pouca perspectiva de reformas de maior alcance durante o horizonte de rating
 

 A agência de classificação de risco Moody's anunciou ontem o rebaixamento da nota de crédito do Brasil, o que significa que o País perdeu o último selo de bom pagador que detinha entre as três maiores agências de risco do mundo. A nota do Brasil foi cortada em dois degraus, de Baa3 - último nível de grau de investimento - para Ba2. A perspectiva é negativa, o que indica que novo rebaixamento pode ocorrer nos próximos meses. 

O anúncio ocorre exatamente uma semana após a agência Standard & Poor's cortar pela segunda vez a nota do País em cinco meses, avaliando que o processo de ajuste da economia será mais prolongado do que o esperado. A perspectiva da S&P é negativa. A S&P foi a primeira agência a retirar o selo de bom pagador do País, em setembro do ano passado. Três meses depois, foi a vez de a agência Fitch também retirar o grau de investimento do Brasil. 

Em comunicado, a Moody's afirmou que o rebaixamento reflete a perspectiva de piora nas contas do Brasil em um cenário de baixo crescimento, com o endividamento do governo inclinado a superar 80% do PIB (Produto Interno Bruto) dentro de três anos. 

A agência citou ainda a dinâmica política desafiadora, que deve continuar a complicar os esforços de consolidação fiscal das autoridades e adiando reformas estruturais. "O fraco apoio político à presidente e à sua administração oferece pouca perspectiva de reformas de maior alcance durante o horizonte de rating", indicou a Moody's no comunicado. 
A perspectiva negativa, prosseguiu a agência, reflete a visão de que "riscos de uma consolidação e recuperação ainda mais lenta, ou de que ocorram choques adicionais, estão crescendo, criando incertezas sobre a magnitude da deterioração do perfil de dívida do Brasil ao longo do horizonte de rating". 
 

ELEVAÇÃO IMPROVÁVEL

Na nota, a Moody's afirmou que a piora dos indicadores analisados para conceder a nota de crédito deve continuar nos próximos três anos por causa da "intensidade do choque para a economia brasileira, a falta de progresso do governo em alcançar seus objetivos de reformas fiscais e econômicas e a expectativa de que atual dinâmica política seja mantida nesse período". A projeção da agência é que, no período 2016-2018, o crescimento do PIB seja equivalente a uma média negativa de 0,5%. 

A agência disse ainda que uma elevação da nota de crédito do País no curto prazo é "improvável" pela perspectiva negativa e pela expectativa de piora dos indicadores de dívida. Mas, segundo a Moody's, pressões positivas sobre o rating podem ocorrer se as autoridades conseguirem resolver os desequilíbrios estruturais que levaram à piora fiscal e ao aumento da dívida do governo. Isso seria possível com a aprovação de reformas estruturais que diminuíssem a "rigidez orçamentária, indexação de receitas e crescimento obrigatório em várias categorias de despesas apesar do fraco desempenho da receita". 
Por outro lado, se os indicadores continuarem piorando, novos rebaixamentos podem ocorrer, diante da percepção da agência de que "autoridades brasileiras não serão capazes de alcançar a consolidação fiscal e encaminhar os desequilíbrios fiscais que impedem a reversão do aumento da dívida pública".

 


Fonte: Folha de Londrina, 25 de fevereiro de 2016fetraconspar.org.br