Indicador do BC aponta retração de 4,08% no Produto Interno Bruto em 2015; economistas projetam mais um ano com encolhimento da economia
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) foi divulgado ontem com queda de 4,08% no ano passado, considerado o pior desempenho da série histórica, iniciada em 2003. Além da confirmação do encolhimento da economia em 2015, os números apontam para continuidade da recessão, com necessidades de medidas para equilíbrio das contas públicas a fim de buscar uma recuperação a partir do final de 2016. O IBC-Br é uma forma de avaliar a evolução da atividade econômica brasileira e incorpora informações sobre o nível de atividade de três setores da economia: indústria, comércio e serviços e agropecuária.
Considerado pelo mercado uma "prévia" do PIB, o indicador foi divulgado um dia depois da agência de classificação de risco Standard&Poor’s rebaixar a nota brasileira de BB+ para BB ao avaliar que o processo de ajuste da economia será mais prolongado do que o esperado. O resultado oficial do PIB do ano passado será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 3 de março.
O economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) Roberto Zurcher afirma que o governo federal precisa reduzir os gastos em busca do equilíbrio fiscal, apesar do momento desfavorável com a queda da arrecadação de impostos. "Medidas macroeconômicas levam entre seis e nove meses para fazer efeito. Se o governo acertar nas medidas, a economia pode dar sinais de recuperação a partir do último trimestre do ano. Assim, 2016 deve terminar com retração pelo terceiro ano seguido", projeta.
Ele lembra que o governo optou por medidas de incentivo ao consumo na última década com liberação de crédito ao invés do aumento da produção e contava com o aumento das receitas. "A arrecadação foi afetada, pois as pessoas estão com as rendas comprometidas com endividamento e desemprego", comenta.
Segundo os dados do IBGE, a produção física industrial teve uma queda de 8,3%. A redução dos setores varejista foi de 8,6% e de serviços retraiu em 3,6% no ano passado. "As áreas de serviços e indústria possuem um peso maior na composição do PIB", explicou.
Zurcher observa que outros países do Brics optaram por políticas econômicas voltadas para a produção e registraram avanços das atividades no ano passado. "O PIB mundial aumentou em 3,4%. Além do Brasil, o único país entre os grandes do planeta que registraram retração na economia foi a Rússia, onde o cenário é diferente por causa de embargos e conflitos", compara.
Repetição
O professor de economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Joílson Dias afirma que as perspectivas para 2016 são difíceis com a discussão dos ajustes econômicos no Congresso Nacional voltada para a elevação das taxas tributárias. "O aumento de impostos prejudica os empresários e a produção, além do consumo das famílias com as rendas já comprometidas", alerta. Na avaliação do professor, a economia pode repetir o desempenho neste ano e fechar 2016 com retração do PIB entre 4% e 5%. "Há 10 anos, o Brasil tinha recordes na arrecadação e o governo perdeu a chance de criar um fundo para realizar uma reforma tributária. Mas, esse momento passou após um período de ganhos econômicos sem solidez", critica.
Fonte: Folha de Londrina, 19 de fevereiro de 2016; fetraconspar.org.br