A inflação brasileira não caminha, dá saltos. Em janeiro, o IPCA ficou em 1,27%, segundo o IBGE. Alimentação, bebidas e transportes foram responsáveis pela maior parte desta alta – nada mais básico. Mas o contágio vai bem mais longe. No mês passado, a disseminação da alta dos preços chegou a 77,5%, maior do que no mês anterior. Guarde os números, vamos à dinâmica. Mesmo com desemprego aumentando e a economia despencando, não há como segurar os custos no próprio quintal. Este é o maior desafio na lida com a inflação: infundir a confiança de que tudo vai ficar bem e não é preciso se defender da alta dos preços.
O Banco Central brasileiro perdeu este canal de comunicação com a sociedade e os agentes econômicos. Pensando bem, o canal continua aberto mas o ruído aumenta como os preços e ensurdece quem está lidando com o estica-e-puxa do orçamento caseiro ou planejamento das empresas. Outro indicador que revela o volume do barulho é o dos núcleos de preços – uma medida que exclui movimentos pontuais e variações extremas dos preços, uma forma de identificar a rigidez do processo inflacionário. Este também aumentou de 0,75% em dezembro para 0,87% em janeiro, ou seja, tirando tudo que era esperado para o período, como o encarecimento dos alimentos provocado pelo clima, por exemplo, a inflação “resistente” está alta demais.
Os analistas explicam que parte desta rigidez se deve à perda de credibilidade do BC. A discussão sobre o trabalho da autoridade monetária já extrapolou o que é bom ou correto para combater a inflação. Depois de cinco anos sem chegar perto da meta de 4,5% para o IPCA, brincar com a taxa básica de juros para cima e para baixo sem colher nenhum benefício para economia, dar recados contraditórios seguidamente, os agentes econômicos deixam de levar em conta o que pensa e o que faz o BC – cada um por si e Deus por todos.
Neste contexto, a expectativa para o nível de juros da economia também sofre reveses e gera mais instabilidade no cenário. Até quinze dias atrás, todo mundo esperava uma alta da taxa básica – movimento sinalizado, confirmado e reforçado pelos próprios membros do Comitê de Política Monetária durante dois meses. Ao mudar de sinal repentinamente, o BC gera agora uma crença contrária: o próximo passo do Copom deverá ser de baixa dos juros. Esta flutuação não acontece só na ideia do que as pessoas tem do futuro. Ela vai como uma carreira de dominó provocando reajustes em preços de ativos financeiros negociados nos mercados futuros e, consequentemente, em vários outros indicadores da economia. Ao perceber esta mudança, os agentes econômicos também reveem seus planos, mesmo que sem entender patativa de derivativos financeiros – é assim mesmo que acontece.
Numa revisão de suas projeções, os economistas do Itaú Unibanco agora esperam juros na casa dos 12% em 2016 - ante expectativa de uma Selic no mínimo estável no patamar atual de 14,25%. Para o PIB, o banco piorou a previsão de queda de 2,8% para 4%, o que vai marcar a pior recessão do século no Brasil.
Sem querer ser pessimista de plantão, registro aqui algumas oportunidades de reversão deste quadro – que estão totalmente fora do controle das autoridades brasileiras. Se a economia internacional sofrer um revés de crescimento por causa da China ou da deflação resistente nos países ricos, os preços daqui podem perder força. Isto acontece, por exemplo, pelo canal do câmbio já que a moeda americana tende a se desvalorizar, reduzindo a pressão inflacionaria aqui dentro. Aliás, é com isso que conta o BC: quanto pior for o cenário lá fora, menos ele precisará fazer para nos devolver a estabilidade da moeda brasileira.
Fonte: G1, 9 de fevereiro de 2016; fetraconspar.org.br