Apesar de retração ameaçar até 21% das organizações, pesquisa aponta que 54% esperam mesmo volume de negócios após buscarem por mais eficiência
O número de empresários com expectativa de retração no volume de negócios ante o ano anterior aumentou de 7% em 2014 para 21% em 2015, mas 54% ainda acreditam que conseguirão manter os resultados da comparação anterior. Medidas como a busca por maior eficiência organizacional, o aumento da produtividade e a revisão de estruturas e processos são apontados como os maiores motores da redução de danos frente à crise econômica, segundo a 24ª edição da Pesquisa Nacional de Remuneração, organizada pela consultoria Deloitte.
As entrevistas foram feitas com representantes de 151 empresas localizadas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do País, que, por outro lado, apontaram para um cenário que pressiona o mercado de trabalho. Sem recursos para investimentos e com acesso ao crédito dificultado pelos juros altos, os gestores voltaram o foco para melhorias internas, na tentativa de atingir resultados de anos anteriores. Tudo para entregar o lucro combinado para o acionista, mesmo com a queda na receita, segundo a pesquisa.
As principais ações tomadas neste ano foram a revisão de estrutura e de processos (63%) e a melhoria da qualidade e aumento de produtividade (62%). O sócio de consultoria da Deloitte, Ricardo Teixeira, afirma que ambas as medidas indicam reestruturação no número de diretorias, gerências e de funcionários em altos cargos, para diminuir gastos com a folha de pagamento. "A redução envolve fazer um esforço para ver onde se pode cortar. Não é demitir talentos, mas cortar o que pode ser excesso", diz. Ele cita a possibilidade de unificar diretorias financeira e de recursos humanos (RH), ou rebaixar o nível hierárquico de uma diretoria administrativa para coordenadoria de outro setor.
Teixeira lembra que a busca por tecnologia também deve ajudar a simplificar processos e diminuir desperdícios. "É possível um estudo para redimensionamento de quadro, com revisão de processos que podem ter ficado burocráticos ao longo do tempo", explica. "Isso gera aumento de produtividade, o fazer mais com menos", completa.
Mesmo com essa tendência, a pesquisa mostra que a capacitação de funcionários continua em evidência. Se caiu do primeiro lugar em 2014 para o terceiro neste ano, ao menos 52% das respostas múltiplas continuam a citar a importância do treinamento. Ainda, o primeiro lugar desta edição não deixa de ser relacionado ao tema, já que 59% dos entrevistados dá importância à manutenção ou criação de programas de desenvolvimento e liderança.
Para o sócio da Deloitte, isso se deve à necessidade de capacitação da mão de obra. "Treinamento e desenvolvimento são gastos prioritários porque trazem benefícios, como fidelizar o profissional e prepará-lo para assumir novos cargos", explica, ao lembrar da possibilidade de se trocar um diretor por um gerente.
Por isso, diz que as empresas não deixam de lado a capacitação. "Mas vão preferir fazer por videoconferência do que presencial, para economizar. Ou treinar um multiplicador, que depois repassará a informação internamente."
A possibilidade de demissões de empregados com altos cargos hierárquicos também podem ter um componente estratégico. Uma das práticas mais destacadas para o RH na pesquisa é o acesso a currículos por meio de internet ou de redes sociais, para 68% das respostas. O mesmo item atingiu 56% da preferência no ano anterior.
Teixeira conta que ferramentas como o LinkedIn permitem uma contratação mais segura. Com as demissões em muitas empresas, é possível reforçar a equipe com profissionais da concorrência. "É um momento estratégico de se buscar mão de obra qualificada, fazendo uma peneira desses talentos."
Fonte: Folha de Londrina, 30 de novembro de 2015; fetraconspar.org.br