Para especialistas em finanças, anotar receitas e despesas é fundamental para quem deseja manter um orçamento familiar equilibrado
Há seis anos, a vida do jovem Raphael Lima de Melo, na época com 22 anos, estava toda enrolada. Gastando mais que ganhava, ele acumulou uma dívida de cerca de R$ 20 mil. Para complicar a situação, perdeu o emprego e tomou a decisão errada de abrir um quiosque em um camelódromo. Usou o dinheiro do acerto. Foi à falência e ainda ficou devendo alugueis.
Melo gosta de contar sua história porque acha que ela serve de exemplo de como não se deve agir. Ainda mais em fim de ano, quando o apelo para a gastança é maior. "Eu usava o cartão de crédito para comprar coisas desnecessárias. Também fiz empréstimo bancário", lembra ele, hoje com 28 anos.
No fundo do poço, o jovem resolveu contratar o serviço de um consultor de finanças pessoais. "Foi aí que comecei a me reerguer. Sob orientação do profissional, passei a preencher planilhas com minhas receitas e gastos. Deixei de lado o supérfluo e foquei na reorganização da minha vida financeira", conta. Segundo ele, foram pouco mais de dois anos para a quitação total das dívidas com seis credores.
Melo acredita que nunca mais esquecerá a lição. Hoje, ele utiliza um programa de computador para gerenciar as finanças. Tudo que gasta, digita na planilha. "Guardo todos os tíquetes para não esquecer de nada", ressalta o jovem que atualmente tem uma empresa de consultoria em motivação profissional.
Maicon Putti, da Ideia Consultoria, lembra que os brasileiros não recebem educação financeira nem na família, nem na escola. E que cerca de 90% dos gastos são feitos com base na emoção. "Tem gente que acha que o limite do cheque especial faz parte do orçamento da família. Se a pessoa não sabe direito quanto ganha, imagina como gasta", declara.
Mesmo que numa papeleta, é preciso anotar tudo que se ganha e tudo que se gasta. Outra dica é estabelecer prioridades. "Às vezes a gente vê a pessoa com carro zero, mas sem casa própria", afirma. Pesquisar antes de comprar também é fundamental, diz Putti. "Ninguém pesquisa. Tem quatro supermercados perto de casa, mas a pessoa só vai em um", destaca.
Ele ressalta que a falta de controle nos gastos é comum em todas as classes sociais. "Tive um executivo como cliente. Ele ganhava R$ 120 mil e gastava R$ 180 mil", exemplifica. O consultor lembra que, da mesma forma que não gosta de pesquisar, o brasileiro também não têm o hábito de poupar, o que é muito ruim. "Há diversos produtos para investimento hoje no mercado. Investir pode parecer sacrifício, mas é fundamental para quem quer ter uma vida financeira estável", declara.
Altermir Carlos Farinhas, especialista em finanças pessoais em Curitiba, diz que o controle das contas deve ser feito de forma compartilhada entre todos os membros da família. "Seja num caderno ou num software, todo mundo tem de participar. Nem todos numa família geram receita, mas todos geram despesas. Os que não ganham podem contribuir no planejamento reduzindo gastos", alega.
Quando o endividamento já se instalou numa casa, os cortes devem ser feitos urgentemente e também de forma compartilhada. "Todos devem participar da decisão do que vai ser cortado", sugere.
O especialista afirma que, além do controle mensal, as famílias devem fazer o planejamento orçamentário anual. "É preciso estimar quanto se vai ganhar e quanto se vai gastar no ano. Só assim é possível decidir sobre a viagem das férias ou a compra de algum produto mais caro", declara.
Fonte: Folha de Londrina, 13 de janeiro de 2014; fetraconspar.org.br