A redução dos dias úteis em função da Copa, a queda das vendas de veículos e um desempenho abaixo do esperado no segmento de supermercados levaram a um resultado ruim para o varejo brasileiro em junho. As vendas do comércio varejista recuaram 0,7% em junho frente a maio, mostrou a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o pior resultado desde maio de 2012, quando a queda foi de 0,8%. 


O mau desempenho do comércio em junho "é a cereja de um bolo que está desmoronando", diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Para ele, o cenário consolida a tese de que o PIB do segundo trimestre será negativo, com impacto de uma redução do consumo das famílias, ainda que a indústria se mantenha como a principal vilã do desaquecimento. 


O economista prevê queda de 0,4% no PIB do segundo trimestre, contra igual período do ano passado, e de 0,3% em relação aos três meses imediatamente anteriores. "Junho foi um mês complicado para o varejo, já que há essa percepção desfavorável para o consumo na população. Quando o crédito está mais caro e o emprego é incerto, ninguém quer comprometer a renda com dívidas." 

O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, afirmou que "o comércio está desacelerando mais rapidamente do que o esperado este ano" e que o crédito mais caro e a possibilidade de altas pontuais de preços, como o de combustíveis, desenham cenário menos favorável para 2015. 

Diante do cenário geral ruim, a confederação reduziu de 3,5% a 4% a perspectiva de crescimento das vendas reais do comércio, ante projeção anterior de 5%. 

O indicador de junho ficou abaixo das previsões do mercado, que projetavam alta de 0,4%, segundo 29 economistas ouvidos pela Bloomberg. Um dos motivos para a previsão frustrada, segundo a analista de varejo e crédito da consultoria Tendências, Mariana Oliveira, foi que havia uma previsão de alta maior com relação ao segmento de supermercados e hipermercados, que teve vendas apenas 0,6% maiores em junho. 

"Havia uma expectativa grande de que os supermercados fossem vender mais carnes e bebidas durante a Copa, o que de fato ocorreu, mas que não foi o suficiente para impactar positivamente na pesquisa", afirmou. 

Já para Sérgio Vale, da MB, o recuo de 12,9% nas vendas de veículos em junho ante maio teve maior peso no resultado do varejo. Juros altos, crédito mais restrito, endividamento elevado, queda na confiança do consumidor e desaceleração do emprego impactaram o consumo de veículos e dos demais bens duráveis. 

O IBGE não calculou quantos dias úteis junho teve a menos em função da Copa, mas o cenário atípico contribuiu para vendas menores em sete dos oito segmentos do chamado "varejo restrito" monitorado pelo instituto. O "varejo ampliado", que inclui veículos e material de construção, caiu 3,9% em junho.

 

 

 

Fonte: Folha de Londrina, 15 de agosto de 2014; fetraconspar.org.br