Adquirir produtos por impulso pode levar ao endividamento e até à inadimplência

 

Ricardo Chicarelli
Roupas e sapatos são os produtos mais comprados por
impulso pelas mulheres
 

Mais da metade dos brasileiros (52%) admitem que fizeram pelo menos uma compra por impulso nos últimos três meses. É o que diz pesquisa realizada pelo portal de educação financeira Meu Bolso Feliz em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Entre os produtos mais adquiridos sem planejamento, estão roupas e sapatos para mulheres e eletrônicos para os homens. O principal motivo destacado na pesquisa para agir assim foram os descontos e promoções. 

 

De acordo com a economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, o elevado número de pessoas que admitiram fazer compras por impulso mostra que o brasileiro não tem planejamento financeiro e cede ao impulso e ao imediatismo até por motivos pequenos, como não fazer feio para o vendedor ou para amigos. Facilidades no pagamento, e mesmo a simples exposição do produto na vitrine também estimulam o consumidor a comprar sem planejamento, acrescenta a economista Maria Eduvirge Marandola. Ela é coordenadora do Projeto Saúde Financeira da Família, do Centro Universitário Filadélfia (Unifil). 

 

A impulsão no momento da compra, entretanto, pode gerar problemas financeiros, e até a inadimplência. "O maior problema é o endividamento e as consequências que o endividamento pode trazer, tais como a inclusão do nome da pessoa no cadastro de devedores e a necessidade de recorrer a empréstimos", observa Maria Eduvirge. 

 

A dona de casa Melissa Marianowski conta que já "estourou" o limite do cartão de crédito uma vez por causa de compras impulsivas. "Foi blusa, muita blusa. Aí a gente chega em casa e se arrepende." De acordo com ela, este tipo de situação acontece porque é levada "pela moda". "A gente compra com os olhos", opina também a colega, a dona de casa Marilyn da Silva Bastos. 

 

Segundo a SPC Brasil, o números de inadimplentes bateu novo recorde em maio, com 9,56% de crescimento em relação ao mesmo período do ano passado. Cerca de 55 milhões de CPFs de adultos estavam registrados em serviços de proteção ao crédito no País até o fim de maio. Entre abril e maio, cerca de 1,2 milhão de adultos foram incluídos em serviços de proteção ao crédito. 

 

"De 80% a 90% das decisões que tomamos são inconscientes", comenta Marcelo Peruzzo, professor do curso de Marketing do Isae/FGV. Isso significa, segundo ele, que 80% a 90% das decisões de compra não são feitas racionalmente. "A compra por impulso gera prazer para a pessoa, mesmo que ela não vá usar o produto." 

 

No entanto, o endividamento também pode causar problemas em caso de imprevistos. "O indivíduo ficará vulnerável diante de possíveis imprevistos que podem agravar ainda mais a vida financeira. Por exemplo, a perda do emprego e doença dele mesmo ou de algum membro da família", alerta Maria Eduvirge, da Unifil. A dona de casa Rosângela Bernardino já passou por apuros por causa de gastos excessivos. "De repente dá aquele impulso e vai mil reais só de calçados. Já perdi o controle uma vez, e como logo em seguida perdi o emprego, ficou para meu marido pagar." 

 

Novos hábitos 

Fazer uma lista de compras e ter um planejamento do consumo baseado no orçamento são algumas dicas que, segundo a economista, podem ajudar a fazer uma compra mais consciente. Sem esquecer de fazer uma poupança, importante para formar uma reserva de segurança em caso de imprevistos. 

 

 

 

Fonte: Folha de Londrina 16 de junho de 2014; fetraconspar.org.br